O SONHO QUE SONHAMOS JUNTAS
“Sonhos que sonhamos juntos são as sementes de um mundo onde a diversidade floresce, e a união nos fortalece em nossa jornada comum.“
Édouard Glissant
A arte urbana extramuros tem se revelado como um território de afirmação e resistência, onde as vozes das artistas mulheres se entrelaçam, criando uma rede vibrante de experiências, memórias e sonhos compartilhados. Ao colocar suas obras nas ruas, essas artistas não apenas invadem o espaço público, mas também desafiam as fronteiras entre o público e o privado, entre o visível e o invisível.
Nesse contexto, a citação de Édouard Glissant ressoa com força, pois os sonhos que são compartilhados nas paredes das cidades tornam-se sementes de um novo imaginário, onde a diversidade de perspectivas se entrelaça para fortalecer um mundo plural e inclusivo. Cada gesto artístico é um testemunho da força coletiva que emerge quando mulheres se unem, seja através do grafite, da intervenção visual, da instalação ou do muralismo, rompendo barreiras e criando espaços de pertencimento e reflexão.
A arte urbana, nesse sentido, é um veículo de transformação social, e ao ser protagonizada por mulheres, carrega um caráter ainda mais potente, subvertendo a lógica patriarcal que historicamente excluiu suas vozes dos grandes circuitos artísticos.
Esta edição do Festival de Arte Urbana aconteceu em bairros descentralizados (periféricos e rurais) da cidade de Cabreúva - SP, com o tema “O sonho que sonhamos juntas” , um festival co-criado por 26 mulheres (cis e trans) e pessoas não- binare do inetrior paulista. Durante os meses de Maio e Junho de 2025 foram criados de dois murais de Grafite, das artistas Bru Yeah e Ana Mercurio, um mural de lambe-lambe da artista maria.f, um mural de Pixo Tátil (para pessoas cegas e com baixa visão) do coletivo Infestação, intervenção de bonecas Abayomi em pontos de ônibus do coletivo PretaEu, murais interativos voltado para o público infantil da ilustradora Gio Poletto e uma projeção de vídeo mapping da artista Bella Tozini com artistas convidadas e trilha sonora de Luca D’ Alessandro. Acompanharam as ações artísticas, atividades educacionais como palestras e oficinas.
As obras dessas artistas revelam não só suas identidades e trajetórias pessoais, mas também uma visão coletiva de futuro, onde o respeito à pluralidade se torna a base de uma convivência harmônica. Os muros, que antes eram meros limites geográficos, tornam-se agora pontos de encontro, onde os sonhos e as histórias de diferentes mulheres se convergem e se espalham, formando um campo fértil para a criação de um novo mundo. Assim, a arte urbana extramuros, ao dar visibilidade à força de artistas mulheres, revela sua capacidade de reinventar espaços e de unir as diversas experiências humanas em um único movimento de resistência e afirmação.
BELLA TOZINI
CURADORA / JUNHO 2025